É inaceitável que as empresas que beneficiaram de layoff e de outros
apoios do Estado possam efetuar despedimentos através de “rescisões por mútuo
acordo”. Com este regime, muitos trabalhadores, serão empurrados para fora dos seus
postos de trabalho, “suavemente”, não obstante, terem direito ao fundo de
desemprego.
Com o crescimento da pandemia, acentuam-se as desigualdades, a
perda de rendimentos, a perda do direito a férias, a perda do direito às suas
folgas. Intensificam-se os horários de trabalho para fazer face aos
trabalhadores que já não estão. Há empresas que fecharam sem satisfazer os
compromissos com os seus trabalhadores. Há empresas que se deslocaram. Há
trabalhadores a receber, unicamente, a percentagem obtida pela Segurança
Social, com a promessa do patronato, que irão receber o restante, mais à frente...
Acentua-se a instabilização familiar, aumentam as dívidas, o
desequilíbrio alimentar, os incumprimentos bancários.
Os números do desemprego não são verdadeiros.
O desemprego que se agrava, é a morte dos sonhos, do sonho de
quem quer ter uma vida digna, o sonho de ser independente, o sonho de pagar as
suas próprias contas, o sonho de ser livre e fazer as suas opções de vida. O desemprego
é um aliado útil do empobrecimento, caminha de mão dada com o capitalismo.
Acentuam-se os mercados de trabalho, em Portugal, há homens e
mulheres que todos os dias esperam que alguém os leve. Outros, esperam que
toque o telefone. Alguém que promete, que combina o local e hora de chegada, com
valor ou não. Muitas vezes desconhecem quem está do outro lado da linha. Ignoram
o que lhes possa acontecer. Correm o risco da promessa muitas vezes incumprida.
São escravos pagos ao dia, remetidos à sua sorte, mal pagos, com “salários” que
não entram nas contas de ninguém, não há recibos, não há papeis, não há provas.
Estes indigentes miseráveis, vendem a sua força de trabalho nas áreas da restauração,
agricultura, têxteis, construção civil...São trabalhadores desempregados,
trabalhadores migrantes e imigrantes, jovens, mulheres, estudantes, reformados,
são engajados por alguém que lhes paga mal, paga inferior ao prometido e outros
fazem a chantagem de pagar no serviço seguinte.
Estes trabalhadores que cumprem horários desumanos de 8 a 14 horas por dia, têm duas certezas...Fazerem tudo o que lhes for exigido a
qualquer preço; terem a oportunidade de trabalhar para pagar contas,
medicamentos, propinas, colocar comida na mesa para os filhos. Há trabalhadores
imigrantes em Portugal há anos sem que tenham algo legal, que lhes permita
resolver a sua documentação, pela falta de prova dos seus vínculos laborais.
Todos os dias são diferentes, alguns têm de pagar os transportes do seu bolso e
sem garantia de volta no dia seguinte.
Para estes trabalhadores que nunca sabem quem lhes vai ligar
no dia seguinte, trabalham em horário seguido sem descanso sequer para uma
bucha.
Muitos destes trabalhadores estão “inscritos” nas famigeradas
empresas de trabalho temporário que ganham milhões como engajadores.
Há poucos anos (?) o PCP pediu na Assembleia da República (AR) a “regulação laboral” destas empresas, como se isto fosse aceitável.
*****
Na restauração e hotelaria, este trabalho ao dia não é
propriamente uma novidade. Há milhares de trabalhadores que faziam e fazem “part-time”
às noites e aos fins de semana. Nos grandes
eventos, têm hora de entrada e podem fazer até 20h consecutivas para ganharem
50€ se forem mulheres a 80€ para os homens. Há engajamento combinado com transporte,
sem direito a ganhar o trabalho noturno. O mundo do trabalho em Portugal está
ligado às maiores fórmulas de exploração desumana e à impunidade.
O movimento sindical e os sindicatos em geral são conhecedores destes procedimentos, bem como os partidos que suportam este governo. Sindicatos e partidos cada vez mais amestrados aos ditames das conjunturas da sociedade capitalista.
Se é verdade que cada um de nós tem a consciência de cuidar-se dos malefícios da pandemia, também é verdade que nenhum de nós deve ser privado de exercer o direito cívico à liberdade de protesto e de revolta pela tamanha injustiça e crueldade com que milhões de cidadãos estão a ser votados ao abandono em todo o mundo.
Empresas de Trabalho Temporário (ETT)
Sócrates e Vieira da Silva são autores da alteração da lei nº
19/2007, que materializa o alargamento
das condições de admissibilidade das ETT e o aumento da penalização e restrições
das respetivas empresas, ou seja, se por um lado eleva as coimas, por outro
lado, diminui as restrições ao recurso das referidas empresas aos trabalhadores
temporários, condicionando até, na ação inspectiva e punitiva da ACT a que não haja nenhuma
necessidade de autorização quanto aos prazos dos contratos.
Reforçam-se assim os anos dourados da burguesia e do
capitalismo nacional na maximização de lucros com menores recursos.
Acrescentar, também, que Vitalino Canas, esse emblema
iluminado do PS, é elevado a Provedor da Ética Empresarial e do Trabalho
Temporário. Vitalino Canas, torna-se, deste modo, um fiel e intransigente
defensor dos interesses do patronato, dando origem pela sua consequência aos
mais diversos tipos de impunidade.
Este tipo de benesse tornada corrente diária nas piores
práticas levadas a cabo pelo patronato, deram origem e suporte a uma cruel
estratégia. A instalação da precaridade sem limites. (contributo para o debate
sobre “O Sindicalismo”).
Precariedade, que torna os trabalhadores em marionetas
egoístas, individualistas nas relações de trabalho, face às condições de
isolamento que lhes são impostas, baixando, deste modo, os níveis de protesto,
de sindicalização e organização nas empresas, perante o patronato.
A legitimidade em Lei não pode conferir todo o tipo de abusos
mercenários a estes abutres sem escrúpulos ao serviço das grandes
multinacionais e do grande capital.
Durante a 1ª dinastia da geringonça, em que o PS necessitou
do apoio do PCP, houve a oportunidade, única, desperdiçada para dizer não a
esta vergonhosa calamidade em Portugal. Pelo contrário, votaram todos os
orçamentos, a favor. O movimento sindical também baixou a guarda na luta por estas causas.
Entre muitas outras consequências lesivas na legislação
laboral, este flagelo em que vivemos, corrói os frágeis alicerces da democracia
e enfraquece as ações de luta. É um poderoso e supremo motivo para lutarmos por
uma Alavanca, uma alavanca que nos faça sonhar, uma alavanca que nos torne
independentes, uma alavanca que nos torne livres numa terra sem amos.
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