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Alavanca: Crítica ao Partido Comunista de Israel


Crítica ao Partido Comunista de Israel


O espírito revolucionário dos partidos comunistas mostra-se no facto dos comunistas não se contentarem em reformar, embelezar e disfarçar as injustiças da sociedade actual (que é capitalista em praticamente todo o mundo), os comunistas lutam sempre por objectivos finais, construir um mundo novo e derrubar o mundo actual. Reformar o capitalismo na realidade é embelezar e disfarçar/esconder as injustiças da sociedade actual, na verdade é defender o capitalismo e eternizar a escravatura assalariada dos trabalhadores.


Isto é ainda mais verdade num país como Israel que ao levar a cabo um genocídio contra os palestinianos em Gaza é um exemplo extremo de capitalismo, o mais extremo desde a Alemanha nazi. O Estado genocida de Israel é um perigo existencial para os palestinianos porque os quer exterminar (um largo consenso mundial denuncia este facto) mas é também um perigo de guerra generalizada no Médio Oriente e de terceira guerra mundial e até guerra nuclear. Isto é um perigo de apocalipse para a humanidade inteira.


O Partido Comunista de Israel tem uma política internacional de apoio praticamente generalizado à social-democracia no mundo inteiro dentro de uma lógica de "frentes de esquerda" e "partidos de esquerda" (significando ir a reboque da social-democracia) nomeadamente em qualquer país em que exista uma polarização entre partidos fascistas e partidos sociais-democratas. E por razões de um certo ecletismo dentro do PC de Israel ou talvez para tentar arrastar Partidos Comunistas revolucionários para o seu revisionismo o PC de Israel também apoia alguns Partidos Comunistas revolucionários - e portanto tem um critério de relações internacionais confuso e contraditório. Vemos nos últimos anos o PC de Israel a saudar sociais-democratas (especialmente aqueles em alianças com partidos comunistas dentro da ilusória lógica anti-fascista) na América Latina e na Europa tais como Petro, Lula e Melenchon e também PCs revolucionários como o KKE, PCV e PC Sudanês. Também há apoios do PC de Israel a PCs plenamente revisionistas como o PC Francês, o AKEL (do Chipre) e o PC da Áustria. A lógica destas "frentes de esquerda" e "frentes anti-fascistas" que dominam as referências entusiásticas internacionais do PC de Israel na sua imprensa partidária nunca poderia estar separada da sua política nacional dentro de Israel. Sabemos sempre  que a orientação ideológica nacional e internacional de um partido nunca pode estar numa contradição total entre si, pelo contrário é lógico que esteja em plena sintonia - sobretudo quando falamos de uma orientação claramente revisionista como a do PC de Israel. 


Mas antes de falarmos na linha política nacional do PC de Israel é preciso dizer que toda esta lógica de "governos de esquerda", "governos anti-fascistas", "frentes de esquerda" e "frentes anti-fascistas", sendo por natureza lideradas pela social-democracia como são hoje em todo o mundo, não podem fazer mais do que reforçar ainda mais os partidos fascistas e o rumo reaccionário e fascizante dos regimes da democracia burguesa. A linha política nacional do PC de Israel é precisamente inserida nesta mesma lógica da reforma do capitalismo e do "anti-fascismo" burguês mas num contexto mais grave porque se aplica a reformar o Estado de Israel e a sua ideologia sionista. No contexto político de Israel as forças a que o PC de Israel se tenta aliar a pretexto de derrotar a extrema-direita sionista são os sionistas "de esquerda", os sionistas "social-democratas" e os sionistas "liberais". E nós colocamos estas qualificações políticas entre aspas porque na verdade todo o sionismo é fascista da "esquerda" à direita. Reformar o capitalismo em qualquer país do mundo, numa democracia burguesa normal é já mau o suficiente (e deve ser liminarmente rejeitado) para um partido que se diz comunista, mas no Estado genocida de Israel ultrapassa todos os limites da imaginação. Nos últimos anos o PC de Israel tem negociado alianças de governo com os líderes "liberais" sionistas Benny Gantz e Yair Lapid para algum tempo depois se queixar deles por eles preferirem aliar-se à extrema-direita sionista - e enquanto isso o PC de Israel justifica e oferece estes apoios a estes líderes a pretexto precisamente de manter a extrema-direita sionista fora dos governos israelitas. O que é preciso dizer é que a manobra de retirar o apoio a estes políticos sionistas por parte do PC de Israel trata a questão como uma mera questão pessoal e não permite de facto entender o papel do falso "anti-fascismo" sionista. O papel deste falso "anti-fascismo" sionista é prosseguir a mesma política de Apartheid, limpeza étnica e genocídio contra os palestinianos mas com uma capacidade muito maior de esconder esta realidade através de guerras e matanças mais lentas e menos intempestivas.


Outra coisa que o PC de Israel revela nas suas publicações é uma reverência a Yizhak Rabin e aos acordos de Oslo, mostrando uma completa incapacidade de compreender que foram estes acordos que colocaram os palestinianos (excepto a Faixa de Gaza que com o Hamas rompeu estes acordos) completamente desarmados e indefesos perante as matanças e limpeza étnica de Israel. Os acordos de Oslo prometiam um Estado da Palestina oferecido "gradualmente" com o controlo da Fatah da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e em vez disso assistimos a uma invasão desenfreada de colonatos na Cisjordânia tornando a vida impossível numa rede de ilhas cercadas pelo exército israelita e tornando a Faixa de Gaza num campo de concentração também cercado e forçado a massacres e à fome. Mas o PC de Israel ao celebrar Rabin trata as falsas promessas da "social-democracia" israelita como um glorioso passado, como se as mentiras de Israel provadas falsas pelo tempo possam ser sempre renovadas com novas falsas promessas, como se a política do genocído lento da "esquerda" sionista seja uma alternativa real e desejável (!!!) ao genocídio intempestivo da direita sionista.


Nós acreditamos que existem comunistas honestos no PC de Israel e nós acreditamos que a realidade do destino genocida de Israel forçará sempre em algum momento a que camaradas honestos encarem a realidade - ainda que possa ser tarde de mais para eles e para os palestinianos que vivem em Israel. Mas o nosso dever internacionalista e na luta contra o revisionismo e o oportunismo não é esconder as nossas críticas ao partido deles, ser diplomático hoje em dia parece uma desculpa para deitar o marxismo-leninismo ao lixo, porque o melhor que podemos fazer como camaradas e amigos dos comunistas que estão em Israel é alertá-los para o facto de estarem no caminho errado.


Nós apontamos para o Partido Comunista Palestiniano, que deu uma magnífica entrevista aos nossos camaradas da KO, como um exemplo que deveria ser seguido pelos comunistas de Israel e como a força que devia ser a referência da luta do povo palestiniano para todos os partidos e organizações comunistas do mundo que apoiam a liberdade para a Palestina.


Em conclusão, para que exista um Partido Comunista revolucionário em Israel é preciso que o Partido Comunista tenha total independência politica de quaisquer forças burguesas e pequeno-burguesas e se coloque apenas a aliança na luta de massas entre a classe trabalhadora judaica e palestiniana e sectores pobres dentro de Israel. As coligações eleitorais devem ser completamente rejeitadas com qualquer tipo de forças sionistas, inclusive com sionistas ditos de "esquerda" ou "liberais", nenhum apoio deve ser dado a qualquer governo burguês e sionista e a única cooperação deve ser feita com forças palestinianas e forças judaicas anti-sionistas mas sempre sob hegemonia da classe trabalhadora e sem estar em contradição com a luta pela revolução socialista. O objectivo das alianças dos comunistas não deve ser um governo sionista "melhor" ou um "mal menor", a luta não pode ser por um governo diferente porque tem de ser uma luta por um Estado diferente, a luta tem de ser pelo fim do Estado sionista e pelo fim do Estado de Apartheid supremacista judeu, a luta tem de ser pela total igualdade de direitos entre cidadãos judeus e palestinianos e outras minorias não judaicas. A política revisionista de alianças do PC de Israel de tentar aliar-se ao sionismo "de esquerda" e "liberal" é contrária a estes objectivos e prejudica seriamente a luta por estes objectivos - na realidade eterniza o poder sionista e o Estado sionista em Israel, com todas as suas políticas de Apartheid, ocupação militar, genocídio e limpeza étnica contra os palestinianos.


Post-scriptum: Um dos aspectos mais decisivos do Estado sionista de Israel ser um Apartheid é que existe pela natureza deste Estado (que tem de ser destruído e derrubado para que haja justiça) um total impedimento do direito de retorno dos refugiados palestinianos de 1948 para dentro das fronteiras do que se chama Israel e por outro lado está instituída uma lei racista "de retorno dos judeus a Israel" que faz com que qualquer pessoas de religião judaica (e sob um critério de "raça" racista) possa vir para Israel ou para os territórios ocupados por Israel na Cisjordânia e montes Golan e basicamente receber todos os luxos de uma vida económica patrocinada pelo Estado de Israel (casa, emprego, terrenos agrícolas, etc). Esta é uma razão decisiva para a existência de uma aristocracia operária e de uma pequeno-burguesia, um sector massivo da população judaica israelita, que são das mais racistas, reaccionárias e fascistas que há no mundo. É por isso que a luta de classes dentro de Israel tem de ser ainda mais feroz do que em qualquer outro país do mundo, sem qualquer conciliação com todos os sectores da burguesia e da contra-revolução sionista e racista (incluindo a parte fascista das massas). Outro aspecto desta conciliação é aceitar e apoiar a designação de ser "não-sionista" em vez da clara demarcação "anti-sionista" da luta contra o Apartheid sionista. É tão ridículo dizer-se "não-sionista" como dizer-se "não-fascista" - porque isto é aceitar, tolerar e permitir que seja possível viver lado a lado com fascistas e sionistas eternamente. Todo o objectivo de igualdade, liberdade e um Estado para os palestinianos implica o fim do Estado sionista de Apartheid de Israel e a completa des-sionização desta sociedade, o sionismo tem de ser banido como ideologia fascista, racista e genocida com tanta força como foi o nazismo e o fascismo no passado. Isto implica uma mudança radical na orientação política revisionista do Partido Comunista de Israel e os verdadeiros comunistas dentro de Israel devem usar todos os esforços para adquirir essa linha política revolucionária.

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