De Aleka Papariga, ex-Secretária Geral do CC do Partido Comunista da Grécia (KKE)
Sobre a posição da Grécia no sistema imperialista
Quem fala em subordinação e ocupação não reconhece a exportação de capital da Grécia (característica do capitalismo na fase imperialista) que era significativa antes da crise e continua inabalável em condições de crise. A exportação de capitais é realizada para investimentos produtivos noutros países e, claro, em bancos europeus até que se formem as condições para que eles voltem a entrar no processo de garantir o máximo de lucro possível. Eles veem escassez de capital em vez de sobre-acumulação.
Eles não vêem o problema da sobre-acumulação porque então serão forçados a admitir o carácter da crise económica capitalista, o que faria ir pelos ares a sua proposta política pró-monopolista. Os partidos burgueses, assim como os oportunistas, apesar das diferenças parciais entre eles, defendem a protecção da competitividade dos monopólios internos que inevitavelmente colocam em primeiro plano a reestruturação reaccionária, garantem uma força de trabalho mais barata, intensificam a intimidação estatal, a repressão e o anti-comunismo e, ao mesmo tempo, concentram a atenção na expansão do capital grego na região (Balcãs, Mediterrâneo Oriental, zona do Mar Negro). É, entre outras coisas, o círculo vicioso que leva a um novo e mais profundo ciclo de crise.
Lenine, na sua obra sobre o imperialismo, acrescentou que a comparação não pode ser feita entre os países capitalistas desenvolvidos e atrasados, mas entre a exportação de capital, uma questão que os oportunistas de toda parte não querem e não ousam reconhecer, porque esse critério refuta o seu ponto de vista em relação à ocupação da Grécia, a colónia grega.
Todos esses dados também confirmam que, desse ponto de vista, a luta contemporânea deve ter uma direcção anti-monopolista, anti-capitalista, que em hipótese alguma pode ser apenas anti-imperialista com o conteúdo dado a esse termo pelos oportunistas, que identificam o imperialismo com a política externa agressiva, com a desigualdade das relações, com a guerra, com a chamada questão nacional, desligada da exploração de classe, das relações de propriedade e poder.
É um facto que a adesão de um país a uma aliança interestatal imperialista, e mesmo com uma forma mais avançada como a União Europeia, limita algumas capacidades de manobras tácticas do ponto de vista da burguesia. Por exemplo, minimiza as margens e as possibilidades de manobra na política monetária, uma vez que está sob a jurisdição do Banco Central Europeu. Mas esta questão não diz respeito apenas ao período da crise, uma vez que os acordos tinham sido assinados entre os Estados-membros muito antes – 20 anos antes da eclosão da crise na zona euro – acordos segundo os quais os direitos dos Estados nacionais são conscientemente cedidos, reconhecendo-se o primado do direito europeu em muitas matérias, independentemente do facto de a zona euro e a União Europeia em geral não terem uma forma federal. Esta tendência, justamente, que demonstra o interesse de classe da burguesia, expressar-se-á na promoção de elementos de federalização da União Europeia se as respectivas divergências inter-imperialistas forem superadas.
A situação em África, nas regiões da Eurásia e no Médio Oriente confirma que todos os países capitalistas estão incorporados no sistema imperialista internacional, independentemente de terem ou não a capacidade de assumir a responsabilidade pela execução de uma política expansionista. De qualquer forma, o século XX e o século XXI demonstram que mesmo os EUA, a principal potência imperialista, não podem administrar de forma independente os assuntos mundiais do imperialismo se não tiverem ajuda múltipla e apoio dos seus aliados, se não formarem alianças pelo menos temporárias. A Grécia não é apenas um Estado-membro da União Europeia e da NATO; é um país que tem uma aliança de importância estratégica com os Estados Unidos, devido à sua posição geográfica como encruzilhada de três continentes, Europa, Ásia e África, é uma importante base militar para lançar ataques e abastecer operações militares, um país através e ao lado do qual passam oleodutos e gasodutos. Ao longo do século XX, assim como do XXI, quando necessário, contribuiu para operações de guerra imperialista e manutenção da paz, bem como no caso da guerra na Jugoslávia, no Afeganistão, no Iraque e na Líbia com forças militares, e também mostrou a sua prontidão em caso de guerra contra a Síria.
Portanto, a posição do KKE de que a Grécia pertence ao sistema imperialista, que está organicamente integrada e que desempenha um papel activo na guerra como aliada dos principais actores, é completamente justificada. Esta é uma decisão do interesse da burguesia que, de facto, apelou duas vezes ao imperialismo britânico e norte-americano para esmagar o povo armado com forças militares, armas e operações militares.
Os oportunistas contemporâneos, quando querem enfatizar a necessidade de a sua burguesia não ser o “parente pobre” na divisão dos mercados, lembram a questão nacional, mas quando se trata da questão da luta pelo socialismo, então, declaram que o socialismo será mundial ou que não pode ser realizado num único país. Renunciam à luta a nível nacional, ou seja, rejeitam a necessidade de agudizar a luta de classes, a necessidade de preparar o factor subjectivo em condições de situação revolucionária.
A luta pela libertação do homem de todas as formas de exploração, a luta contra a guerra imperialista, não pode ter um desenvolvimento positivo se não for combinada com a luta contra o oportunismo. Independentemente da força política do oportunismo em cada país, ele não deve ser subestimado ou julgado por critérios parlamentares, uma vez que a raiz do oportunismo está no próprio sistema imperialista, porque a burguesia, quando percebe que não pode administrar os seus assuntos com estabilidade, apoia o oportunismo como uma visão generalizada, como partido político, para ganhar tempo para reagrupar o sistema político burguês, minar o crescimento constante do movimento operário revolucionário. A concentração de forças, a aliança da classe trabalhadora com os sectores populares pobres dos trabalhadores por conta própria deve ser objectivamente desenvolvida numa direcção anti-capitalista firmemente anti-monopolista, visando a conquista do poder pelos trabalhadores. A direcção anti-monopolista e anti-capitalista expressa o compromisso necessário, mas avançado, entre o interesse da classe trabalhadora em eliminar todas as formas de propriedade capitalista – grandes, médias e pequenas – e as camadas que oscilam pela sua natureza (pela sua posição na economia capitalista) e que têm interesse na abolição dos monopólios, na socialização dos meios de produção concentrados e, ao mesmo tempo, estão imbuídas da ilusão de que têm interesse na pequena propriedade privada. Não conseguem compreender que os seus interesses a longo e médio prazo só podem ser servidos pelo poder socialista. A ilusão de que qualquer outro compromisso pode ser bem-sucedido em condições de capitalismo monopolista, ou seja, na fase imperialista do capitalismo, é prejudicial, utópica, ineficiente.
O KKE, em condições em que não há uma situação revolucionária, visa não apenas impedir o curso descendente, não apenas conseguir algumas concessões temporárias, mas também preparar o factor subjectivo, ou seja, o partido da classe operária e seus aliados para realizar as suas tarefas estratégicas em condições de situação revolucionária. Nestas condições, que não podem ser previstas antecipadamente, é necessário ter em conta o aprofundamento da crise económica, a agudização das contradições inter-imperialistas que chegam ao ponto de conflictos militares, é possível que se criem estas condições prévias e desenvolvimentos na Grécia. Nas condições da situação revolucionária, o papel de preparação organizativa e política da vanguarda do movimento operário, do Partido Comunista, é decisivo para o agrupamento e orientação revolucionária da maioria da classe operária, especialmente do proletariado industrial, a fim de atrair os sectores dirigentes das camadas populares.
Fonte: Iskra - Associação de Estudos Marxistas-Leninistas e El Machete (El Comunista)
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