Avançar para o conteúdo principal

A KO entrevista o Movimento Alavanca sobre o PREC - parte 5


Entrevista da KO ao Alavanca:



KO - Como está organizado o movimento comunista em Portugal hoje, após 50 anos? Como se  desenvolveu o PCP em particular? Que lições foram tiradas pelo Partido do fracasso do 25 de  Abril?




Alavanca - O PCP deixou de ser um partido comunista há muitos anos. O momento decisivo de abandono do marxismo-leninismo foi no terreno ideológico-estratégico com a adopção do programa da "Democracia avançada" em 1988, um programa euro-comunista copiado de um manifesto de 1968 do PCF com o mesmo nome. Após a Democracia Avançada o PCP entrou numa fase de disputas internas mais abertas ou mais encobertas que teve como última oportunidade de viragem à esquerda a crise de 2001/2002. Como era previsível a estratégia revisionista com o tempo tornou-se táctica revisionista e isso levou o PCP a tornar-se um aliado subalterno do PS em 2015, quer dizer, um aliado dos governos burgueses social-democratas. Qualquer tipo de revolução (mesmo não sendo socialista) foi abandonada pelo PCP no programa de 1988 e qualquer tipo de oposição da maioria sindical que o PCP domina em Portugal foi abandonada pelo PCP em 2015 (e isto não quer dizer que o programa do PCP era bom antes de 1988 ou que a oposição de massas do PCP antes de 2015 era boa). O PCP(R) e a UDP seguiram o mesmo caminho de degeneração revisionista e de liquidação como partidos ainda antes do PCP. O PCP(R) e UDP começaram por aliar-se em eleições numa coligação com os trotskistas do PSR e foram estes trotskistas que lideraram o processo de construção do partido social-democrata "Bloco de Esquerda" (espécie de Syriza português) que liquidou o PCP(R) e a UDP. Em 1993 o PCP(R) auto-dissolveu-se para ficar apenas dentro da UDP (que de "frente de massas" se transformou em mero partido eleitoral) e a UDP por sua vez auto-dissolveu-se para ser apenas uma corrente parte do Bloco de Esquerda em 2005. Não haviam quaisquer partidos comunistas em Portugal após o PREC além do PCP e do PCP(R), nunca consideramos a seita maoísta do MRPP como partido comunista (desde que foi fundada). Hoje em dia olhando para aqueles que se dizem comunistas em Portugal e excluíndo os anedóticos MRPP e a militância direitista do PCP (porque ambos não podem ser levados a sério) fica a ala esquerda do PCP, o Alavanca e o que restou dos que cindiram com o PCP(R) que é a corrente pro-Francisco Martins Rodrigues (pro-FMR). A ala esquerda do PCP tem se arrastado ao longo dos anos aparentemente à deriva, o próprio Alavanca funcionou como ala esquerda do PCP na sua fase inicial e constatou como o PCP mesmo nas bases é um pântano completamente inútil (até mesmo para organizar uma cisão). Mas ultimamente a ala esquerda finalmente parece colocar a hipótese de o PCP poder desaparecer e esta própria ala esquerda também desaparecer junto com o PCP. Contando com esta ala esquerda do PCP, o Alavanca e os grupos pro-FMR, falamos em Portugal de grupos que no seu conjunto são umas dezenas de pessoas, umas dezenas de pessoas que se dizem comunistas. Podemos juntar a isto umas centenas de pessoas que se dizem comunistas no MRPP e uns milhares nos direitistas do PCP, mas estes além de estarem em declínio são reformistas irrecuperáveis (irem parar ao PS é bem mais fácil do que virarem à esquerda). A corrente pro-FMR tem uma fraseologia radical que engana facilmente os que conhecem pouco ou nada do que eles dizem, falar na crítica à Frente Popular e ao PCP de FMR não chega para nada, a corrente pro-FMR rejeita por inteiro o movimento comunista internacional desde a revolução russa e propõe realmente algo tão novo, tão novo que dizerem-se comunistas soa a velho dentro de tanta novidade, com a rejeição do passado por inteiro só lhes falta assumirem a rejeição do marxismo, do leninismo e da palavra comunista. Também esta corrente não devia ser levada a sério, mas estamos apenas a começar a crítica que é necessária para expor porque ela não tem nada a ver com o movimento comunista. Que lições foram tiradas pelo PCP do fracasso do PREC? É para rir... O PCP dirá: "Qual fracasso?" Estamos na "democracia" (burguesa, temos de ser nós a dizer) que sempre quisemos. A "revolução" continua até hoje segundo o PCP actual, é a "revolução" da "humanização do capitalismo" que só estes aristocratas operários (vendidos aos capitalistas) conseguem ver.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Crítica a Francisco Martins Rodrigues e à sua corrente ideológica - parte 1

Introdução à crítica a FMR e à sua corrente ideológica Nós achamos natural que muitos comunistas honestos - e temos encontrado alguns casos desses ultimamente - julguem positivamente Francisco Martins Rodrigues, numa leitura inicial do seu livro "Anti-Dimitrov", por ignorância e desconhecimento das verdadeiras ideias políticas e ideológicas deste ideólogo que deixou não apenas escritos das suas ideias mas também realmente uma corrente ideológica que ele próprio estruturou em vida e que continua a existir até hoje (em vários grupos políticos que existem em Portugal). E porque acreditamos que a apologia infundada e a ausência de crítica a Francisco Martins Rodrigues (FMR) vem da ignorância das suas ideias achamos melhor começar a nossa crítica anotando citações essenciais do seu pensamento (nos seus artigos essencialmente da revista Política Operária de 1985 em diante) que se pode resumir pelas suas próprias palavras a um "anti-stalinismo de esquerda". Estas citações ...

Some principles of political and diplomatic relations between communist parties and organizations

Alavanca - Marxist-Leninist Movement Some principles that all communist parties and communist organizations must follow in their relations with other parties and organizations. We as communist parties or organizations have a duty to follow Marxist-Leninist principles in our political and diplomatic relations. In other words, where there is a communist party or communist organization, even if they are small, our duty is to prioritize relations with these parties or organizations and not with revisionist, social-democratic or bourgeois parties. We have a duty in managing our political and diplomatic relations to contribute everything we can to creating or strengthening communist parties or communist organizations (aiming to found the communist party) that are truly Marxist-Leninist. Our political and diplomatic relations have a responsibility, not only in our country Portugal, but throughout the world, to strengthen the truly Marxist-Leninist communist movement and combat revisionism...

Interview to Nidal El-sham of the Australian Communist Party

Interview carried out by Alavanca - Marxist-leninist Movement Alavanca - About the origin of Israel. It is my understanding, from a bunch of sources, that the apartheid system of Zionist Jewish supremacists was already set up by the colonial administration of the British empire when historical Palestine was called the British mandate Palestine. The State under British colonial rule of Palestine was a so called democracy just for Jews and Palestinians non Jews were to be oppressed, segregated and enslaved. By that time already I think the idea of European imperialists and Zionist white Jews from Europe was that a white population, the Zionists, dominate the Arab Middle East and the oil fields and Suez canal for world trade. Nidal El-Sham - The original plan was for 3 areas to be partitioned. One for the Zionists, second for the Palestinians, and a neutral zone for Jerusalem administered by the UN. Alavanca - That explains why Israel is so completely intertwined with England and the Unit...