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A KO entrevista o Movimento Alavanca sobre o PREC - parte 6


Entrevista da KO ao Alavanca:



KO - Que lições vocês retiram dos últimos 50 anos desde o 25 de Abril não apenas para Portugal,  mas também para o movimento comunista internacional? Qual é hoje a principal tarefa dos  comunistas em Portugal e no mundo?




Alavanca - A principal tarefa para os comunistas em Portugal e no mundo é hoje e deveria ter sido desde há mais de um século a Revolução Socialista. A Revolução Socialista não é possível sem um Partido Comunista revolucionário, que tem de ser a vanguarda revolucionária que lidera o proletariado para tomar o poder. Para existir um Partido Comunista Revolucionário tem de haver uma estratégia revolucionária, que hoje deve estar inserida no esforço de uma estratégia revolucionária unificada internacional dentro do pólo leninista do movimento comunista internacional. É fundamental desenvolver o pólo leninista do movimento comunista internacional no sentido de criar novamente uma Internacional Comunista. E estas bases estratégicas só são possíveis com uma educação ideológica baseada nos clássicos de Marx, Engels e Lenine e também na obra de Stalin (como grande divulgador do marxismo-leninismo e líder da construção socialista) e nas bases teóricas do KKE que fizeram um estudo profundo da União Soviética e do movimento comunista internacional. Destacamos também o trabalho ideológico do Partido Comunista do México sobre a história do movimento comunista internacional e sobre a questão da mulher proletária. O nosso artigo "Factos sobre o PREC" dedica-se essencialmente às conclusões a tirar sobre o PREC e nós dividimos essas conclusões em 6 partes: o carácter revolucionário e contra-revolucionário das diferentes classes e das forças que as representavam, o que concluímos sobre a estratégia revolucionária que foi seguida pelas forças revolucionárias, como avaliar a correlação de forças para a revolução, qual era a política de alianças que devia ser implementada pelas forças revolucionárias, como deveríamos lidar com uma assembleia constituinte em terreno capitalista e o dilema entre revolução violenta e "transição pacífica" para chegar ao socialismo. Para compreender o que se passou durante o PREC é melhor ler o nosso artigo de conclusões integralmente mas em síntese dizemos: 


1 - De um lado estiveram os partidos comunistas revolucionários ligados ao proletariado e campesinato pobre e do outro estiveram os partidos burgueses (liderados pela social-democracia) e pequeno-burgueses ligados à burguesia e à pequeno-burguesia do lado da contra-revolução. A luta de classes foi entre capitalismo e socialismo.


2 - A estratégia que devia ser seguida era a estratégia da Revolução Socialista e não da Revolução Democrática e Nacional ou Revolução Democrática Popular. Não existe uma etapa "democrática" entre capitalismo e socialismo.


3 - A correlação de forças para a revolução socialista define-se como o poder estratégico e não como poder da maioria, tal como os bolcheviques tomaram primeiro as cidades e centros industriais antes de tomar toda a Rússia durante a Revolução Russa. Mantém-se o carácter universal da Revolução Russa e dos sovietes.


4 - A política de alianças do tipo Frente Popular, entre "campo democrático" e "campo fascista", dividindo a burguesia entre boa e má está completamente errada nomeadamente depois de derrubar o fascismo. E o derrube do fascismo foi um processo marcado pelo seu carácter rápido e temporário. A política de alianças a ser seguida deveria ser a aliança entre o proletariado e os sectores populares pobres no sentido da revolução socialista, já não apenas contra os fascistas mas sim contra os defensores da democracia burguesa, contra toda a burguesia e contra a pequeno-burguesia contra-revolucionária.


5 - Uma assembleia constituinte em terreno da sociedade burguesa, antes de derrubar o Estado burguês, não pode implementar o socialismo ou ser sequer um passo positivo de avanço em direcção ao socialismo. Uma constituição é sempre um reflexo da sociedade existente e nunca é uma ferramenta para a transformar. Em Capitalismo qualquer constituição serve apenas para enganar as massas, tal como todo o legalismo burguês, prometa o que prometer.


6 - Não há revoluções pacíficas nem vias pacíficas para o socialismo. E no socialismo existe ditadura do proletariado e isto significa repressão contra a burguesia e os sectores contra-revolucionários, porque a luta de classes se mantém até à abolição completa das classes, com a sociedade comunista.



Nós alertamos para o facto de em Portugal as principais tendências oportunistas no movimento comunista, dentro do PCP e supostamente à sua esquerda, terem como principal ponto de partida para o abandono do marxismo-leninismo e do legado do movimento comunista internacional a conclusão falsa que Stalin foi um tirano e a dramatização da necessária repressão contra a burguesia e contra as forças contra-revolucionárias na União Soviética no tempo de Stalin. Nós, Alavanca, também criticamos os erros das frentes populares nos anos 30 e 40 do século XX e a sua utilização como estratégia reformista depois da Segunda Guerra Mundial, nós também criticamos como um erro a dissolução da Internacional Comunista, e portanto reconhecemos que se cometeram erros importantes no tempo de Stalin, mas alertamos para a utilização oportunista de críticas honestas pela esquerda que são transformadas em pretexto para rejeitar toda a história da Internacional Comunista (até a linha classe contra classe que era um oposto da Frente Popular) e para rejeitar os grandes méritos da construção do socialismo e a repressão contra a burguesia e contra as forças contra-revolucionárias no tempo de Stalin. É essa utilização oportunista de críticas honestas ao que foi feito no tempo de Stalin que faz a corrente pro-Francisco Martins Rodrigues em Portugal a partir do livro "Anti-Dimitrov" de Francisco Martins Rodrigues.



Um momento importante na metamorfose do PCP para se tornar num partido burguês social-democrata foi quando na crise interna de 2001/2002 se colocou o foco da luta interna por parte da esquerda numa luta entre intelectuais e operários (sindicalistas) e na questão do centralismo democrático, enquanto por parte da direita se colocava a necessidade de uma aliança com o PS e do PCP deixar de ser partido "de protesto" e passar a ser um partido de governo (burguês, dizemos nós). A ala direita do PCP colocava a luta nas questões realmente mais importantes que são as ideológicas (estratégia e política de alianças) e a esquerda do PCP iludia-se com questões menores, sobretudo com soluções organizativas (centralismo democrático) e também uma composição de classe mas sem ideologia (que no fundo é um identitarismo de esquerda). Lenine explicou historicamente como o partido comunista, o partido da vanguarda revolucionária, é produto da fusão do movimento operário com o socialismo científico. É imprescindível promover uma composição operária dentro do partido comunista mas na condição da ideologia marxista-leninista ser obrigatória para recrutar e promover a dirigentes do partido os operários. Recordamos a polémica de Lenine contra os mencheviques, logo no começo da cisão entre bolcheviques e mencheviques, porque os mencheviques queriam fazer dos operários que fazem greve automaticamente militantes do partido marxista - isto é recrutar operários sem nenhum critério ideológico e sem defesa do programa (estratégia) revolucionário. É na sequência da crise de 2001/2002 que Jerónimo de Sousa é eleito secretário geral do PCP simplesmente por ser operário (o que iludiu completamente a ala esquerda do PCP) e é este Jerónimo de Sousa que leva à liquidação ideológica final do PCP, transformando o partido (e os sindicatos que ele dirige) em força subalterna dos governos burgueses social-democratas do PS. Depois disso tivemos também o fenómeno Obama nos Estados Unidos e achamos que os movimentos anti-racistas (a começar pelo Black Lives Matter) não aprenderam nada do facto de um presidente negro ter governado num período de repressão particularmente cruel contra a população pobre negra nos Estados Unidos. Hoje, consideramos particularmente perigoso este identarismo de esquerda dentro do movimento comunista internacional (mesmo dentro do seu pólo leninista) e em especial dentro das juventudes comunistas. Entre o Obama e a degeneração do PCP tiramos lições que ultrapassam a crítica superficial a uma burguesia de "identidades oprimidas" e concluímos que dentro dos partidos comunistas e organizações comunistas o impulso para promover "identidades oprimidas", que hoje está assente no movimento LGBT e feminista e não na mais importante contradição básica de classe, salta por cima da avaliação ideológica dos quadros comunistas. O impulso para promover quadros de "identidades oprimidas" dentro de organizações comunista é um impulso ideologicamente cego que reflecte o impulso dentro da mesma lógica nas forças burguesas, tal como foi o fenómeno Obama. É por isso que nós vemos a ala esquerda e a ala direita dentro dos movimentos LGBT e feministas, como duas faces da mesma moeda, e duas facetas da mesma ideologia de colaboração de classes. Hoje já não é de estranhar que o PCP fale de um Papa argentino no Vaticano como um Papa de esquerda. O identitarismo de esquerda preocupa-se com a face das coisas e não com a sua essência, preocupa-se com a identidade dos líderes e não com a sua ideologia. Nós alertamos que é tão grave apoiar um político ou líder burguês a pretexto de ser de uma "identidade oprimida" como é grave recrutar e promover a dirigentes de organizações e partidos comunista pessoas que são avaliadas unicamente por serem de "identidades oprimidas" e não por qualquer critério ideológico. No fundo voltamos ao velho menchevismo que dizia que um qualquer operário grevista é marxista só por ser um operário grevista.


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