Entrevista da KO ao Alavanca:
KO - No PREC, o Partido Socialista (PS) acabou prevalecendo, e não os comunistas. Esse partido foi amplamente criado pelo SPD, Partido Social-Democrata alemão sob o comando de Willy Brandt; até mesmo a conferência de fundação do partido, em 1973, foi realizada no exílio na Alemanha. Qual foi o papel da social-democracia antes, durante e depois do 25 de abril?
Alavanca - O Partido Socialista (PS) sempre defendeu o capitalismo desde a sua fundação, sempre foi uma força burguesa e sempre foi a principal das forças contra-revolucionárias. Já durante o breve tempo em que o PS (e o seu embrião anterior liderado por Mário Soares) actuou no tempo do fascismo o seu carácter era burguês e contra-revolucionário mas foi durante o PREC, na transição para a democracia burguesa, e durante o desenvolvimento do regime democrático-burguês, desde então, que o PS se tornou o chefe de todas as forças contra-revolucionárias (chefiando tudo desde oportunistas e liberais a fascistas) e o principal pilar do regime capitalista na forma da democracia burguesa. A social-democracia é por natureza a principal força que se adecua a liderar o capitalismo na forma da democracia burguesa, digamos que o principal obstáculo à revolução socialista é a social-democracia. Isto vem da natureza da democracia burguesa e do Estado burguês, Lenine explica de forma muito clarificadora a natureza do Estado burguês como um Estado que precisa de criar a aparência de um Estado acima das classes, quando na verdade é a ditadura da burguesia contra as outras classes e principalmente contra o proletariado. A questão chave está aqui na aparência do Estado. De forma simples podemos dizer que enquanto o Estado fascista se baseia principalmente na repressão violenta o Estado democrático-burguês baseia-se em enganar as massas trabalhadoras e para isso o mais decisivo para o regime capitalista é o partido burguês que melhor converte os trabalhadores em pessoas que apoiam ou pelo menos aceitam com fatalismo o regime capitalista. A social-democracia é um partido burguês para operários e quanto mais se finge de esquerda mais eficaz é contra a luta dos comunistas pela revolução, é por isso que Lenine dizia que Kautsky entre os social-democratas era o mais perigoso porque o contra-revolucionário "mais à esquerda" é o mais eficaz a enganar as massas. O papel internacional do partido alemão SPD a desenvolver partidos burgueses da social-democracia e a infiltrar e destruir partidos comunistas por dentro é semelhante ao papel da central sindical dos Estados Unidos AFL-CIO a infiltrar agentes dos imperialistas nos sindicatos a nível internacional, ambos se dedicam a comprar uma camada da classe operária, a aristocracia operária, a nível internacional - ao mesmo tempo que respondem aos interesses particulares rivais das duas potências imperialistas, Alemanha e Estados Unidos.
KO - No decorrer do PREC formou-se um grande número de grupos de "esquerda" que se autodenominavam comunistas. Havia nessa época forças oportunistas relevantes além do PS e forças comunistas relevantes além do PCP? Que papel elas desempenharam?
Alavanca - Durante o PREC as forças revolucionárias eram o PCP e a UDP, falamos de forças comunistas da classe operária. Também durante o PREC a OCMLP era uma força revolucionária menor que logo a seguir ao PREC se fundiu, em parte, com os grupos comunistas que formavam a UDP para criar o PCP(R). O PCP foi sempre pro-soviético e a UDP, OCMLP e PCP(R) eram pro-albaneses, mas esta importante diferença ideológica e de alinhamento internacional não se traduziu essencialmente em estratégias revolucionárias diferentes e em posturas diferentes nas grandes decisões políticas tácticas durante o PREC - e também depois do PREC. Para além destas forças existiram alguns grupos menores de natureza pequeno-burguesa que foram arrastados para defender uma via revolucionária socialista pela força dos acontecimentos, mas eram típicos grupos pequeno-burgueses hesitantes. As forças revolucionárias e os grupos pequeno-burgueses que foram por estas arrastados reuniram-se principalmente em torno do apoio à esquerda militar e ao seu principal líder que foi o primeiro-ministro dos governos provisórios Vasco Gonçalves. Do outro lado deste processo de luta de classes estavam as forças contra-revolucionárias que contavam com diversos grupos, de meras siglas vazias, que se diziam partidos comunistas e que actuavam como satélites do PS e do PSD apenas para desviar uma parte das massas trabalhadoras das forças revolucionárias e também para infiltrar agentes da burguesia dentro das forças revolucionárias. Uma grande quantidade de supostos partidos comunistas existiam em Portugal durante o PREC e quase todos eles eram organizações de fachada da burguesia compostas por pequeno-burgueses contra-revolucionários e aristocratas operários vendidos aos capitalistas.
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