Factos sobre o PREC - parte 4
4 - A política de alianças.
A política de alianças das forças revolucionárias. A insistência do PCP em reunificar o MFA depois do 25 de Novembro de 1975 foi consequência de uma fraqueza estratégica - que é a incapacidade de perceber que a luta pelo derrube do fascismo tinha acabado e que a luta agora era para derrubar a democracia burguesa com uma revolução socialista - e esta por sua vez resultou em uma fraqueza táctica nas lutas do dia-a-dia, assim se compreende a demora para a greve geral de 1982. Na realidade mesmo durante o PREC o PCP e a UDP nunca deveriam ter defendido a unidade entre os revolucionários da esquerda militar (Vasco Gonçalves e outros, próximos do PCP e de outras forças revolucionárias) e os contra-revolucionários do grupo do nove (controlados pelo PS). Vasco Gonçalves estava certo em dizer que entre revolucionários e contra-revolucionários não há terceiras vias. Além de sanear fascistas, deveria-se ter saneado reformistas do Estado, como aconteceu temporariamente com a saída do PS do governo provisório de Vasco Gonçalves.
A aliança do PCP com o PS dentro da CGTP e insistência em colaborar com o PS (dentro da CGTP e na UGT) em greves gerais foram também resultado desta incapacidade do PCP se posicionar como inimigo da democracia burguesa, isto é, do capitalismo como ele realmente é.
Após um auge eleitoral em eleições burguesas do PCP no início dos anos 80 seguiu-se o bloco central (governo do PS com o PSD) e a intervenção do FMI em Portugal. Foi então também o fim da resistência dos operários agrícolas revolucionários do Alentejo que procuravam impedir o desfazer das cooperativas criadas durante o PREC e a recuperação das terras pelos latifundiários.
Das devoluções de terras (ocupadas de forma revolucionária pelo proletariado rural) e de bancos a latifundiários e capitalistas às privatizações dos anos 90 e deste século, prosseguiu a política de consolidação da democracia burguesa sempre guiada principalmente pela social-democracia do PS, de braço dado com a direita liberal do PSD (a quem o PCP chamava de "não-democratas", ou seja de fascistas) e também com o CDS-PP dos restos do antigo regime fascista (como sempre entrelaçado com a hierarquia da Igreja Católica).
A aliança da UDP com os trotskistas do PSR em 1983 foi o preparativo para criar o BE e a dissolução do PCP(R) nos anos 90. A aliança contra-natura entre defensores de Stalin e de Trotsky para fins eleitoralistas e reformistas não podia deixar de anunciar a destruição da UDP e do PCP(R) enquanto organização e partido marxistas-leninistas. Neste caso não foi só o conteúdo ideológico mas as próprias siglas e organizações que foram destruídas através da dissolução dentro do Bloco de Esquerda da UDP, controlada pelos trotskistas do PSR e sociais-democratas da "Política XXI" (uma das várias cisões euro-comunistas do PCP que foram parar ao BE ou ao PS).
Em 1986 o "campo democrático" mais uma vez serviu de falso pretexto para o PCP apoiar o PS de Mário Soares contra a suposta terrível ameaça de regresso do Estado fascista com a eleição de Freitas do Amaral do CDS. Na verdade Freitas serviu para desmoralizar a oposição revolucionária ao PS pois Freitas iria acabar 20 anos mais tarde como ministro num governo do PS. A verdade é que da social-democracia do PS aos fascistas do CDS o regime sempre jogou para manipular os trabalhadores para apoiar a democracia burguesa e o capitalismo sob o falso pretexto do "mal menor". De "mal menor" em "mal menor" os trabalhadores perderam todos os seus partidos comunistas, toda a sua organização de vanguarda revolucionária e com independência de classe.
Exagerando a ameaça do regresso do fascismo e desvalorizando fatalmente a ameaça do PS para a destruição revisionista por dentro do PCP, perdeu-se de vista que o PS era um inimigo muito mais importante do que os fascistas e o facto de Freitas do Amaral 20 anos depois das eleições de 1986 ter ido parar a ministro de um governo do PS mostra bem que a "ameaça fascista" era um espantalho para manipular ingénuos.
Nos anos 90 a dissolução do PCP(R) e adopção do programa "euro-comunista" do PCP "democracia avançada" (copiado de um manifesto do PCF que tinha 20 anos) foram coerentes com as suas trajectórias de cedências à social-democracia e de degradação do que havia de revolucionário nos seus programas. Como aconteceu em todo o mundo as correntes revisionistas atacaram dentro das forças revolucionárias, PCP e PCP(R), e os dirigentes que se mantinham revolucionários (apesar dos seus erros) simplesmente foram incapazes de perceber a necessidade de ruptura com o revisionismo e colocaram a "unidade do partido" como mais importante que o marxismo-leninismo. Na prática existiu uma capitulação destes partidos enquanto partidos marxistas-leninistas.
Ao dissolver-se o PCP(R) em 1993 tudo o que havia de comunista na UDP desapareceu. No PCP ao adoptar o programa da "democracia avançada" em 1988 seguiu-se um caminho de manter as aparências, as cores, o símbolo, o nome e tudo o que é superficial enquanto em termos de conteúdo a destruição do partido marxista-leninista começa por adoptar um programa, isto é uma estratégia, completamente revisionista e anti-marxista-leninista como é a "democracia avançada". No PCP foi possível nestes termos manter ainda durante décadas, quase até à formação da geringonça com o PS, uma luta interna entre revolucionários e revisionistas, mas esta luta foi feita de um modo geral de forma equivocada pelos revolucionários. Foi um erro que Álvaro Cunhal e outros que se opuseram às tendências revisionistas promovessem a questão do centralismo democrático e os problemas de organização como a chave para derrotar os revisionistas, o problema muito mais importante era o programa revisionista, a política de alianças e todo o tipo de questões ideológicas.
O conflicto entre "ortodoxos" e "renovadores" em 2001/2002 dentro do PCP foi a última verdadeira oportunidade para os revolucionários vencerem os revisionistas dentro do PCP. A falsa vitória dos "ortodoxos" foi baseada numa discussão centrada no "centralismo democrático" e em sanções muito leves aos revisionistas que deviam ser expulsos em massa (e não apenas os seus líderes). Na verdade a crise de 2001/2002 foi a última oportunidade de derrubar o programa euro-comunista e social-democrata da "democracia avançada".
A exclusão do camarada Carlos Costa e de outros revolucionários do comité central do PCP cerca de 10 anos depois foi o resultado de uma luta muito fechada dentro do Comité Central de camaradas revolucionários que acordaram tarde para os problemas ideológicos do PCP. Camaradas esses que não perceberam a tempo que o problema era principalmente ideológico (estratégico e programático) e que não perceberam a necessidade de uma luta ideológica da base até ao topo.
A geringonça com o PS foi a morte ideológica definitiva e irreversível do PCP enquanto partido comunista.
O mais revolucionário que podia ser feito era tratar o PS como inimigo desde o tempo do PREC. A democracia burguesa precisa de ser derrubada por uma revolução socialista e um partido que não diga isto (e que diga o oposto e defenda a democracia burguesa) não é um partido comunista.
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