Sobre o que acontece dentro de Israel
Apoiamos a solidariedade com todas as pessoas, partidos políticos, organizações, etc., que são perseguidos por se oporem à matança de palestinianos (e certamente estes assassinatos estão a matar também os cidadãos israelitas e estrangeiros levados de Israel pelos grupos armados palestinianos para Gaza para forçar um acordo de troca de prisioneiros). As pessoas em Israel estão a ser reprimidas, presas e têm os seus direitos democráticos negados apenas por expressarem oposição ao assassinato de palestinianos em Gaza.
Vemos também um amplo consenso, entre os comunistas e outras pessoas anti-genocídio, sobre a definição de Israel como um Estado de Apartheid. Mas colocamos a questão: podemos lutar contra a repressão dentro de Israel sem dizer que tipo de Estado Israel deveria ter?
Se todos concordarmos que Israel é um Estado de Apartheid e se quisermos lutar contra a repressão deste Estado de Apartheid contra aqueles que falam e lutam pelo fim do genocídio em Gaza, pelo fim da ocupação israelita e por um Estado Palestiniano livre, não deveríamos estar a dizer que tipo de Estado deveria existir em Israel?
Estamos apenas a juntar 1+1=2 aqui, a dizer o elementar. Os nossos objectivos não são obviamente possíveis num Estado de Apartheid, então que tipo de Estado queremos?
Podemos aceitar que mesmo um Estado burguês seja um objectivo imediato para a Palestina, de forma a pôr fim ao genocídio, mas e quanto a Israel?
Mais por dentro da questão de que tipo de Estado Israel deveria ter
Como entendemos, ao ler um artigo da Al Jazeera, a rivalidade política hoje em Israel é entre Netanyahu e os generais do exército sionista que são tanto do seu próprio partido, do partido Likud (o ministro da defesa), como do suposto “bloco liberal” (Benny Gantz), bloco que foi oposição até ao início do genocídio em Gaza. Hoje apenas o Partido Comunista de Israel e o partido árabe islâmico (espécie de irmandade muçulmana em Israel) não apoiam o genocídio em Gaza, não apoiam o governo de Netanyahu e não participam directamente no “gabinete de guerra”. Mas tanto o PC de Israel como o partido árabe islâmico descaradamente fizeram todos os compromissos possíveis para criar um governo de Gantz e companhia (o “bloco liberal” sionista) contra o bloco de Netanyahu com o Likud e os colonatos e a extrema-direita religiosa.
Qual é a diferença entre Netanyahu e os generais e “liberais” como Gantz? De acordo com este artigo da Al Jazeera, Netanyahu quer uma guerra longa para alimentar o fanatismo dos judeus israelitas e ter tempo para restaurar sua imagem e os generais querem uma guerra/genocídio rápido para recuperar o controle total do governo e se livrar de Netanyahu. Para os sionistas, expulsar Netanyahu é uma questão de quem obtém os lucros, mas também uma questão de restaurar a imagem do Estado israelita entre os judeus israelitas, porque Netanyahu é odiado pela maioria da população judaica, não desde a ofensiva do Hamas, mas desde há uns 6 ou 7 anos atrás quando começou uma acusação de corrupção contra ele. Até mesmo a “extrema-direita” sionista, que é a sua principal base de apoio, odeia-o porque às vezes ele hesita em dar a esta “extrema-direita” sionista o poder total. O que dissemos até agora são apenas as “relações públicas” entre os judeus israelitas fanáticos e dementes, ainda não falamos sobre a diferença entre Netanyahu e os generais e “liberais” como Gantz para os palestinianos e entre o genocídio longo e rápido.
A “guerra rápida” de Gantz, dos generais, dos liberais e da “esquerda” sionista é ainda mais brutal do que o plano de guerra longa de Netanyahu. Uma guerra rápida significa atingir rapidamente os objectivos de Israel e isso significa acabar com Gaza e matar mais de 2 milhões de pessoas ou forçá-las a partir para o Egipto e depois de não restar nenhum edifício de pé, substituir a existente Gaza palestiniana por uma base militar israelita sem população palestiniana, obviamente. A própria dinâmica de uma “guerra rápida” só poderia significar o que acabamos de dizer, porque não há absolutamente nenhum desacordo entre Netanyahu e Gantz no objectivo de “destruir o Hamas”. Não entendemos porque demoramos tanto para definir o sionismo como fascismo, não só é fascismo, mas é o pior tipo de fascismo. E queremos dizer que todas as facções sionistas, desde a "esquerda", social-democratas, liberais até à extrema-direita religiosa e colonizadora, todo o espectro sionista é fascista e de certa forma a extrema-direita sionista tem a característica positiva de não esconder a sua própria natureza, talvez a pior coisa no sionismo seja precisamente a sua capacidade de esconder a sua natureza e de criar uma lógica do “mal menor”. O maior mal do sionismo e do Estado israelita é a lógica do “mal menor”.
A verdadeira escala do genocídio em Gaza
Quanto ao genocídio em Gaza, estamos sobretudo preocupados com o genocídio contra mais de 2 milhões de palestinianos na Faixa de Gaza. Mas também estamos preocupados com o genocídio de menor intensidade até agora de mais de 3 milhões de palestinianos na Cisjordânia e com o perigo claro de futuro genocídio contra mais de 2 milhões de palestinianos que vivem dentro de Israel. Quando vemos os números do próprio governo de Israel percebemos que na Palestina histórica (Israel, Gaza e Cisjordânia) vivem cerca de 6 milhões de judeus israelitas e 7 milhões de palestinos. E os palestinianos, a verdadeira maioria da população de toda a Palestina histórica, são os que estão sujeitos ao genocídio. Podemos então compreender a escala do genocídio. É óbvio que Gaza é apenas o começo, enquanto existir um Estado de Apartheid o genocídio continuará até que o último palestiniano seja morto ou deportado da sua terra natal.
Como é que Netanyahu permaneceu no poder durante os últimos 7 anos sendo o homem mais odiado dentro de Israel?
Israel é um Estado de Apartheid. A base deste Estado racista é a religião e a nacionalidade judaica. É confuso para muitas pessoas, mas os judeus consideram-se como ambos: uma religião e uma nacionalidade. A base do projecto sionista sempre foi, apesar das afirmações absurdas dos “ateus sionistas” ou dos “sionistas seculares”, um Estado judeu religioso – o que mais poderia ser o supremacismo de uma religião-nacionalidade? Desde a fundação de Israel pelos chamados "socialistas" sionistas, pelos social-democratas e pelo que restou dos mencheviques judeus que desempenharam um papel contra-revolucionário na Rússia, desde o início, Israel desde 1948 estava destinado a acabar como um Estado de Apartheid abertamente religioso e fascista (que é de direita sem máscaras de “esquerda”, claro). O crescimento da extrema-direita sionista em Israel é impossível de parar, especialmente pelo que resta de todas estas forças do engano da "esquerda" sionista e da sua versão moderna que é o liberalismo e um Estado militar/policial. Israel é um Estado de Apartheid desde 1948, desde a sua cínica origem “de esquerda”, e não desde tempos recentes. Todos os sionistas são fascistas da “esquerda” à “extrema-direita”, a sua natureza política básica não muda de uma facção para outra, tal como muitos outros movimentos fascistas têm facções não muito diferentes em comparação com o sionismo, historicamente.
Israel é uma sociedade bizarra para a maioria das pessoas do mundo e isto explica porque atingiu uma crise permanente entre os fanáticos abertamente religiosos e aqueles que querem esconder a mesma política de supremacia religiosa sob um manto de "liberalismo" ou de ilusões de um exército-Estado, de um Estado acima das classes e da população e dos conflictos entre povos e facções - mas que Estado? Um Estado judeu religioso, é claro. Além da raça e da religião que são aceites em Israel como uma ditadura de pessoas brancas "escolhidas", os liberais querem que a sociedade israelita seja como os Estados Unidos ou qualquer "democracia liberal" flutuando nas nuvens de um "movimento Woke", de um "feminismo" e de um "movimento LGBT" - apenas para judeus israelitas. Esta é a versão moderna daquilo que os liberais consideram a forma mais elevada de democracia... mas apenas para judeus brancos. Os árabes, palestinianos e muçulmanos devem ser condenados pelo seu próprio "patriarcado", "homofobia", etc... como se o Estado judeu não estivesse cheio dos mesmos preconceitos contra as mulheres e as pessoas LGBT que um Estado islâmico...
No meio deste espectáculo de horrores de uma maioria tristemente demente da população judaica israelita, Netanyahu emerge como uma espécie de rei do “mal menor” para os dois grandes blocos em disputa: aqueles que negam o seu próprio fascismo e aqueles que o abraçam abertamente. Ambos os lados esperam de alguma forma que Netanyahu fique do lado deles e salve o país de uma guerra civil sionista. No final, para impor a ordem, Israel está mais próximo de uma ditadura militar do que de um governo liberal ou religioso de extrema-direita estável a longo prazo. Netanyahu, com toda a sua conhecida corrupção durante 7 anos, pode oferecer esperanças ingénuas de algum acordo pacífico dentro dos campos sionistas.
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