Quando Lenine fala de países coloniais e semi-coloniais na sua obra "Imperialismo, fase superior do capitalismo" ele está a falar de colónias em 1916. Como sempre Lenine analisa as causas profundas que são económicas, e por isso objectivas e rigorosas, do colonialismo como parte da fase superior do capitalismo, o imperialismo. É um princípio fundamental do marxismo-leninismo, isto é o socialismo científico, que as causas dos grandes fenómenos mundiais e humanos, do poder político e da luta de classes, têm como raiz a economia e não a subjectividade moral dos indivíduos.
Naturalmente o colonialismo de que Lenine fala não é o mesmo que o império romano ter conquistado militarmente toda a Europa e a região do mediterrâneo asiático e africano. Uma maneira simples de explicar a diferença entre a colonização de África pelo império britânico e a colonização da Europa pelo império romano é dizer que o império romano visava, digamos, o alargamento do país romano, englobando um país tão avançado como a Grécia antiga e países atrasados como Portugal (que ainda não existia e era uma coleção de povos tribais). O colonialismo na fase do capitalismo e em particular na fase imperialista do capitalismo, com o império britânico sendo o seu maior representante de sempre, não visava alargar a Inglaterra mas sim digamos externalizar para fora das fronteiras da Inglaterra o grande poderio económico da potência imperialista inglesa. Vestígios e provas conclusivas do que estamos a falar é sabermos que existiam escravos em Roma e em todo o império romano, a estrutura económica e de classes do colonialismo dos impérios da antiguidade esclavagista simplesmente alargava as fronteiras do país com todas as suas características económicas. Vejamos o império português, já desde a época feudal o império português "externalizava" o seu poderio económico para as colónias. A extracção de matérias primas e produtos transformados, (café e açúcar por exemplo) das colónias portuguesas em África e no Brasil era combinada com a exploração massiva de escravos africanos. Apesar da abolição da escravatura e da independência do Brasil, o mesmo mecanismo de exploração das colónias permanece nas colónias africanas de Portugal até ao fim da "guerra colonial" portuguesa em 1974. O mesmo mecanismo é pilhar recursos naturais e explorar mão-de-obra que só não é "escrava" em termos formais dentro do sistema racista e segregacionista que é o colonialismo. Outro aspecto da "externalização" da economia dentro do colonialismo capitalista é que nunca existiu uma grande população negra africana em Portugal durante todo a história do colonialismo português. Não existiu porque o poderio económico estava nas colónias e não em Portugal. Repare-se que os Estados Unidos foi um dos últimos países do mundo a abolir a escravatura e necessitou mesmo de uma guerra civil (dividindo o país entre norte e sul) para finalmente abolir "formalmente" a escravatura - precisamente porque o poderio económico dos Estados Unidos como potência capitalista nunca esteve nas colónias mas sim dentro desse mesmo vasto país.
Falamos na "externalização" da economia para as colónias para falar da importância do centro de gravidade do trabalho e recursos naturais no processo económico das sociedades com classes e em particular do capitalismo imperialista. Temos de falar também que as colónias na época capitalista-imperialista tinham como característica serem um sistema de poder mundial - lembremos como África chegou a ser dominada completamente por impérios coloniais de potências capitalistas europeias. O mesmo aconteceu em quase todo o mundo fora da Europa: Américas (do norte ao sul), quase toda a Ásia e em toda a Oceânia. Devemos falar também como o colonialismo manteve geralmente as colónias num processo quase congelado ou muito atrasado de desenvolvimento capitalista. Nesse congelamento esteve incluído manter as colónias com amplas características da fase esclavagista e feudal de desenvolvimento enquanto o capitalismo se desenvolvia na metrópole colonial. Por exemplo, na América Latina foi só depois da independência das colónias hispânicas no começo do século XIX que se aboliu a escravatura nos países latino-americanos.
Outro aspecto característico do colonialismo capitalista é que não havia qualquer impedimento, excepto a capacidade de controlo militar, a criar colónias em territórios gigantescos. Exemplos: a Índia colonial que se divide depois da independência em Índia, Paquistão, Bangladesh e Myanmar, a América do Norte colonizada pelos britânicos (que incluiria Estados Unidos e Canadá), etc. Pelo contrário era benéfico à potência capitalista colonizadora dominar os maiores territórios possíveis.
É de notar que a partir do fim do sistema colonial mundial, quando em 1974 a última potência capitalista europeia deixa de dominar colónias em África - isto é Portugal - mas acima de tudo após o fim da União Soviética em 1991 a tendência para a existência de grandes territórios nos países colonizados inverte-se para um tendência de cada vez mais partições e divisões em Estados independentes (na América Latina, África, Ásia e também na Europa do Leste onde o capitalismo foi restaurado), que tornam esses Estados cada vez mais fracos. Este fenómeno ganha um nome particularmente esclarecedor quando é chamado de "balcanização", pois a divisão da Jugoslávia serve de modelo para o que as potências imperialistas fazem hoje: divisão de Estados e promoção de guerras civis em particular no Médio Oriente e em África mas também no Leste da Europa após a contra-revolução (Síria, Líbia, Iraque, Sudão, Iémen, Chipre, Checoslováquia, Ucrânia).
O colonialismo juntava e expandia territórios na posse de uma potência capitalista colonial. O imperialismo actual, após o fim do sistema colonial mundial, na realidade faz o inverso: divide os Estados que eram anteriores colónias para torná-los fracos como concorrentes capitalistas no "mercado mundial".
O que estamos a dizer é que de uma forma geral as guerras civis e divisões de países fomentadas pelas potências imperialistas têm um objectivo definido de enfraquecer países, por exemplo no Médio Oriente e norte de África, isto tem o objectivo de comprar petróleo e gás natural mais barato, destruíndo o poder de negociação de preços dos países destruídos por guerras civis.
Pelo contrário Israel provando ser uma excepção no mundo actual aproxima-se do colonialismo do século XX ao expandir as suas fronteiras até eliminar a Palestina e os palestinianos.
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