O que significam a solução de dois Estados (Palestina e Israel) ou de um Estado englobando a Palestina e Israel?
Acreditamos que sob a pressão dos acontecimentos, com o objectivo de dar uma resposta aos problemas imediatos alguns partidos comunistas revolucionários esquecem um pouco os problemas futuros e portanto estratégicos da liberdade para o povo da Palestina e de um Estado livre e independente para o seu povo. Acreditamos que isto também vem da pressão das juventudes comunistas, inexperientes e pouco focadas na formação ideológica dos seus membros.
Por um lado é correcto responder aos acontecimentos imediatos e procurar dar passos para acabar com o genocídio que o Estado de Israel pratica contra o povo palestiniano - em primeiro lugar em Gaza mas também na Cisjordânia. Também compreendemos que as juventudes comunistas estejam empenhadas nas manifestações e protestos. Mas é preciso ter atenção a problemas futuros para não dizer algo errado.
Não é verdade que a solução de dois Estados ou um Estado englobando Palestina e Israel sejam antagónicas ou seja uma boa e uma má. Em primeiro lugar seria importante ver que diferentes organizações palestinianas defendem a primeira ou a segunda solução. Por exemplo a Autoridade Palestiniana defende dois Estados e o Partido Comunista Palestiniano defende um Estado.
Agora é preciso ver em algum detalhe o que a solução de dois Estados e um Estado significam. Comecemos pela solução de dois Estados, que é mais conhecida e digamos maioritária em organizações políticas palestinianas (se é que podemos falar em maioria e liberdade de voto nas condições de ocupação militar imposta por Israel em Gaza, na Cisjordânia e Jerusalém). A solução de dois Estados baseia-se na luta mais antiga das organizações Fatah e OLP (coligação dominada pela Fatah) desde o tempo do líder histórico palestiniano Yasser Arafat. A solução de dois Estados usufruiu do apoio de resoluções da ONU e de centenas de votos que se repetem anualmente que confirmam estas resoluções e que condenam verbalmente Israel sem que daí haja qualquer consequência. Sem dúvida que a solução de dois Estados seria um passo de gigante para um Estado palestiniano e para a liberdade do povo palestiniano, sem dúvida que deixaria o Estado de Apartheid de Israel em recuo mas deixaria alguns problemas importantes por resolver.
Supomos que um Estado palestiniano incluiria a Faixa de Gaza e a Cisjordânia e Jerusalém este como capital com o seu próprio exército e com o controlo das suas fronteiras com o Egipto e com a Jordânia e com a expulsão das tropas de Israel e de todos os colonatos sionistas que se baseiam em tendências extremistas judaicas. Damos por resolvida a questão da liberdade e independência do Estado palestiniano dentro destes territórios que são consequência da expulsão em massa dos palestinianos do território que hoje se chama oficialmente de Israel.
Mas um outro ponto da defesa de dois Estados como solução é o direito de regresso dos refugiados palestinianos e aqui começam os problemas e as questões que ficam sem resposta. Direito de regresso dos refugiados palestinianos à Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém este não são suficientes nem são do que se trata quando se fala deste direito. Do que se fala quando se fala de direito de regresso dos refugiados palestinianos é regresso ao território que hoje se chama de Israel.
Originalmente este direito de regresso por parte dos palestinianos baseava-se sobretudo na pequena propriedade de casas de família e terrenos agrícolas, hoje essas casas e muitas vezes povoações inteiras foram destruídas e eliminadas do mapa e em outros casos estão ocupadas há 75 anos (quase um século) por cidadãos judaicos de Israel que beneficiaram dos privilégios de um supremacismo racista que lhes entregou casas e propriedades dos palestinianos. Cumprir integralmente o direito de regresso dos refugiados palestinianos com a devolução das suas casas e propriedades significaria também a deportação em massa de cidadãos de Israel, boa parte deles também pobres e trabalhadores, gerando a continuidade do ódio fratricida. Por outro lado para grande parte dos milhões de refugiados palestinianos as suas casas e povoações foram destruídas e o regresso só é possível, ou pela lógica capitalista de que cada um que compre ou alugue uma casa se puder ou pela lógica socialista de pagamento de indeminizações pelo Estado (o que significaria a transformação radical do Estado de Israel deixando de financiar o "regresso dos judeus do tempo das cruzadas a Israel" e passado a devotar todos os fundos possíveis ao regresso dos palestinianos).
Acreditamos que está implícito na solução de dois Estados que continuaria a existir Israel como um Estado governado por judeus e passaria a existir um Estado palestiniano governado por árabes. O problema é que para além do muito complicado regresso dos refugiados palestinianos a Israel a população árabe de Israel, que são realmente palestinianos, englobando refugiados e os árabes que já lá estão enfrentariam um problema enraizado de desigualdade e Apartheid racista dentro das fronteiras de Israel.
A solução de um único Estado englobando a Palestina e Israel procura resolver todos estes problemas que ficariam como resquício do Estado racista de Israel ao criar um Estado palestiniano sem ter como foco a necessidade de direitos iguais para cidadãos judeus e palestinianos dentro do Estado de Israel. A solução de um único Estado englobando a Palestina e Israel tem um objectivo simples de criar um só Estado com direitos iguais para cidadãos judeus e palestinianos, algo que em todo o caso será sempre necessário no Estado de Israel em caso da criação de um Estado palestiniano incluindo a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém este como capital. É evidente que os direitos e a liberdade para o povo palestiniano no sentido de lhes providenciar um Estado palestiniano são incompatíveis com a continuidade de existência ao seu lado de um Estado racista de Apartheid sionista de Israel.
Portanto não se trata apenas de criar mais um Estado, um Estado para os palestinianos, mas também de acabar com o regime racista de Israel. Sendo assim não é justo dizer que um Estado ou dois Estados, é a solução justa de um lado e a injusta do outro. No mínimo a defesa da solução mais antiga de dois Estados requer a resposta a questões que não se resolvem com duas ou três frases de um slogan muito resumido.
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