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Palavras Necessárias - um resumo do texto de Bento Gonçalves - Parte 2

A fundação da CGT (anarco-sindicalista) e a criação e fim da Federação Maximalista Portuguesa segundo Bento Gonçalves:

"Efectivamente, o Congresso Nacional Sindical, reunido em Coimbra, em Setembro de 1919, aprovou a criação da Organização Confederal — C. G. T. — e confirmou a orientação sindical revolucionária. O jornal «A Batalha» apareceu após o Congresso, onde os socialistas se tinham feito representar.

O ano de 1919 foi um ano rico de acontecimentos, de organizações, de agitação e de lutas operárias. A conquista da jornada de 8 horas tem um especial relevo na história do Movimento Operário. Havia, então, muitos dirigentes operários e amigos das classes trabalhadoras que, através da sua experiência de luta, tinham sentido a necessidade de criar um instrumento revolucionário que pusesse o proletariado em condições de atrair a si todas as camadas exploradas da população. A Confederação mobilizava apenas as massas operárias. A luta política do proletariado contra o sistema capitalista precisava de abarcar horizontes mais largos. Só uma organização onde coubessem todos os indivíduos mais capazes da população explorada, com os operários à cabeça, podia efectivamente colocar a classe operária em condições de dirigir a luta até ao derrubamento da sociedade capitalista.

Foi esta verificação o ponto de partida para uma série de reuniões entre os militantes operários e vários indivíduos cujas ocupações não permitiam a sua sindicalização. Depois dum largo debate chegou-se à conclusão de que bolchevismo queria dizer: revolução levada ao máximo. Este conceito deu à luz a Federação Maximalista para onde, por fim, entraram, com raras excepções, todos os assistentes às reuniões. Estava-se no fim de 1919.

A Manuel Ribeiro, então o amigo mais entusiasta da revolução russa, foi atribuído o cargo de Secretário Geral da Federação e de Director da «Bandeira Vermelha», seu órgão na imprensa.

A actividade da Federação Maximalista quase se limitava à publicação da «Bandeira Vermelha». Entretanto, Manuel Ribeiro e os restantes colaboradores davam ao jornal uma feição combativa que chamava a atenção das massas contrárias ao sistema burguês. O apoio que prestava às lutas operárias, conduzidas pela C. G. T., era valiosíssimo, de acordo com as ideias sectárias da época. Mesmo assim, os militantes operários de tendência anarquista, porque o jornal procurasse aproximar-se das ideias da Revolução Russa, embora o fizesse confusamente, separaram-se da Federação.

Por altura de Outubro de 1920, os ferroviários declararam nova greve geral nacional. O objectivo que tinham em vista era o da melhoria económica e reformas. A greve arrasta-se durante muito tempo e António Granjo, ministro do Governo de então, reedita a façanha terrorista do emprego do «vagão fantasma». A greve é perdida. Manuel Ribeiro, na «Bandeira Vermelha», publica uma série de artigos contra o terrorismo governamental sobre os ferroviários, terminando por ser preso.

Com a prisão de Manuel Ribeiro cessa toda a actividade da Federação Maximalista. Dentro de pouco desapareceria para sempre.

Supunha-se ter dotado a classe operária dum instrumento político, com a Federação Maximalista. A verdade, porém, é que se estava longe de compreender como se devia levar a cabo esse empreendimento. Partira-se duma concepção ideal, do desconhecimento teórico do marxismo. A pretensão de aglutinar indivíduos de mentalidades e ideias heterogéneas como base de criação de um instrumento político e revolucionário da classe operária constituía um erro de premissa que revelava o oportunismo dos seus iniciadores. Entretanto, o acontecimento significava certo amadurecimento de ideias sobre a necessidade de um partido revolucionário nas mãos do proletariado. Mas, coisa curiosa, entre os indivíduos que debatiam a ideia havia muitos que não eram proletários. Isto era assim porque o proletariado português, devido às condições de atraso industrial do país, andava apegado à tradição da luta sindical e não tinha tomado ainda consciência da necessidade de transformar politicamente as condições da sua existência social."

A principal razão para o sucesso e o fracasso do marxismo e do PCP em Portugal é a sua razão de ser, a sua origem e constante reconstrução internacionalista. Valorizar o internacionalismo proletário valeu ao marxismo em Portugal e ao PCP a sua existência, a sua constante rectificação e o seu fortalecimento e por outro lado o deslize para o menosprezo do internacionalismo, as falsas teorias de excepcionalismo nacional dos comunistas portugueses e a falsa ideia de uma via portuguesa para o socialismo valeram ao PCP e ao marxismo em Portugal os seus enfraquecimentos e fracassos revisionistas. Isso começou logo pela antecâmara do PCP que foi a Federação Maximalista Portuguesa cujo objectivo era criar um partido leninista em Portugal e que lutou dentro do movimento sindical completamente dominado pelo anarco-sindicalismo da CGT para trazer os sindicatos para o bolchevismo. Esse esforço foi continuado pelo PCP nos anos 20 e dentro da CGT uma minoria significativa de sindicatos e de sindicalistas, que por momentos até parecia indicar confusamente ser a maioria, quis ligar-se à Internacional Comunista e à Internacional Sindical Vermelha. Olhando para trás, dada a guerra aberta entre comunistas e anarquistas isto pode parecer estranho mas a Revolução Russa teve assim tanta influência na época e explica bem porque o PCP teve fortes raízes no movimento anarquista e no movimento sindical da época.

Curiosamente Manuel Ribeiro e Carlos Rates são referidos por Bento Gonçalves como sindicalistas anarquistas que contra à corrente do próprio anarquismo sucumbiram ao oportunistmo de apoiar a burguesia portuguesa com a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial ao lado da Inglaterra. Manuel Ribeiro foi o líder da Federação Maximalista Portuguesa e acabaria por abandonar o bolchevismo que por pouco tempo defendeu em prol de um conservadorismo católico mas o seu apoio à revolução russa foi valioso para fundar o PCP mesma sendo de curta duração. Bem mais grave foi o percurso de Carlos Rates, o primeiro secretário geral (ou líder oficial) do PCP, que muito antes do PCP existir era um feroz sindicalista anarquista a combater os marxistas no movimento sindical e que enquanto líder do PCP colocou o PCP como muleta da social-democracia e da burguesia, mais tarde acabaria por se tornar um fascista membro do partido de Salazar. Mas isto mostra que os antecedentes anarquistas dos fundadores do PCP nem sempre estiveram ligados a uma postura propriamente esquerdista.

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