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Palavras Necessárias - um resumo do texto de Bento Gonçalves - Parte 1

Neste resumo usaremos não apenas o que disse estritamente Bento Gonçalves mas também a nossa apreciação crítica e captação da essência do que diz o histórico camarada sobre a história do movimento operário e comunista em Portugal.

O ano de 1871 com o acontecimento da Comuna de Paris é o ano escolhido por Bento Gonçalves para começar a sua narração histórica sobre a história do movimento operário em Portugal porque é sensivelmente nessa altura que as consciências socialistas são agitadas por esse acontecimento revolucionário e que se inicia a construção da Primeira Internacional liderada por Marx e Engels que fazem chegar as ideias marxistas pela primeira vez a Portugal. O exemplo da Comuna de Paris e as ideias de Marx chegam sensivelmente na mesma altura a Portugal na forma da ideia de que os trabalhadores podem e devem tomar o poder e de que o marxismo é a ideologia que permite concretizar essa ambição de progresso humano.

Figuras conhecidas da literatura portuguesa no século XIX como Eça de Queirós e Antero de Quental estiveram entre os primeiros divulgadores das ideias socialistas em Portugal mas Eça e Antero tal como a generalidade dos primeiros socialistas e sindicalistas não distinguiam bem os interesses do proletariado dos interesses da pequeno-burguesia e podemos mesmo dizer que o movimento operário em geral nunca distinguiu muito os interesses do proletariado dos interesses da burguesia até à implantação da república em 1910. Antero teve alguma ligação à primeira internacional mas era proudhonista (uma ideologia pequeno-burguesa entre o socialismo utópico e o anarquismo). É importante referir estes detalhes para explicar que o movimento socialista não era plenamente marxista quando surgiu e a adesão ao marxismo teve os seus altos e baixos mas nunca se impôs completamente criando um partido marxista embora o Partido Socialista Português (PSP) fundado em 1875 e ligado à Primeira Internacional tenho sido uma tentativa de construir um partido marxista. O dirigente do PSP Azedo Gneco pode ser referido como o primeiro marxista português independentemente de conseguir ou não revelar suficiente capacidade política para o estudar e aplicar a Portugal. Os méritos marxistas de pioneiros como Azedo Gneco passavam acima de tudo por estudar, traduzir e publicar as primeiras obras marxistas em Portugal (algo que começou ainda no auge da vida política de Marx) ao mesmo tempo que se procurava construir o primeiro partido marxista e os primeiros sindicatos operários. Mas a história do movimento operário não apenas em Portugal mas também no mundo demonstraria que só com Lenine e a criação dos partidos leninistas (isto é chamados comunistas) pela Internacional Comunista estariam à altura de criar na teoria e na prática os elementos indispensáveis para criar partidos marxistas que passavam por um novo tipo de organização, um partido de novo tipo.

"Azedo Gneco foi, a partir de certa altura, a figura mais saliente, o socialista mais capacitado, o que mais se aproximava das ideias de Marx, postas em marcha através dos princípios da Primeira Internacional." (Palavras Necessárias, Bento Gonçalves)

"Nos começos do nosso século, o Partido Socialista é já uma realidade viva; todo o movimento sindical e cooperativista, principalmente, está sob a sua influência e controlo." (Palavras Necessárias, Bento Gonçalves)

O PSP de Azedo Gneco acabaria por ser tomado por tendências proudhonistas e reformistas (possibilistas) e o marxismo acabaria por ser relegado para minoria dentro desse partido e dentro do movimento socialista em geral assim como nos sindicatos.

"As ideias anarquistas tinham, muito antes do 1910, conquistado muitos indivíduos entre nós. À semelhança da França, também em Portugal se instituíram agrupamentos destes idealistas. A sua acção exercia-se paralelamente à dos republicanos, embora se distinguissem por uma mais contundente linguagem e considerassem que a República liberal era o trampolim para uma sociedade sem Estado, Leis ou Autoridade.

Até 1904, os anarquistas, em França, tinham-se apercebido da impossibilidade de alargar a sua influência ideológica em concorrência com os seus émulos pequeno-burgueses, agrupados em organizações de esquerda liberal. Esta constatação levou-os ao sindicalismo revolucionário com a «descoberta» dos sindicatos dos trabalhadores, para onde transferiram quase toda a sua actividade. O esmagamento da Comuna tinha aberto a porta ao derrotismo e ao oportunismo; as ideologias estranhas aos justos interesses da classe operária entravam por essa mesma porta. É assim que a maioria dos sindicatos franceses impregnados de mentalidade anarquizante decidem aceitar, no Congresso de Amiens, a concepção sindicalista revolucionária do Movimento Operário."  (Palavras Necessárias, Bento Gonçalves)

A conjugação da incapacidade dos marxistas de criarem o seu próprio partido revolucionário da classe operária, a deriva reformista do PSP (também influenciada pela deriva reformista da Segunda Internacional) e a inflexação muito bem sucedida da actividade anarquista para trabalho político exclusivamente nos sindicatos (o que lhes valeu ganhar a hegemonia anarco-sindicalista dentro dos sindicatos) fez com que um grande fosso se cavasse entre os dirigentes marxistas do PSP e as massas do proletariado presentes num movimento sindical em crescimento. A conjugação destes factores levou como consequência lógica a uma submissão do partido operário PSP e dos marxistas a uma aliança subalterna com os republicanos burgueses que iriam triunfar na revolução burguesa de 1910 derrubando a monarquia.

Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914 e a falência ideológica da Segunda Internacional que se dividiu em partidos apoiantes das suas burguesias nacionais em guerra uns com os outros à custa das vidas dos trabalhadores  o PSP perdeu a pouca relevância que lhe restava como partido e influência nos sindicatos e cooperativas. A partir de 1917 fez se sentir a influência da revolução russa bolchevique em Portugal e o que restava dos marxistas do PSP junto com um grupo numeroso de anarco-sindicalistas simpatizantes dos bolcheviques formaram a Federação Maximalista Portuguesa em 1919 que vai ser uma antecâmara para a fundação do Partido Comunista Português como Secção Portuguesa da Internacional Comunista.

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