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Sobre o imperialismo – a pirâmide imperialista (parte 1)

Artigo de 31 de Março de 2013 para El Machete, Revista de teoria e política do Partido Comunista do México


De Aleka Papariga, ex-Secretária Geral do CC do Partido Comunista da Grécia (KKE)


Nos dias 11 e 14 de abril de 2013, realizar-se-á o 19º Congresso do KKE, cujo tema básico, para além do relatório das atividades e tarefas até ao próximo 20º Congresso, é a elaboração do Programa do Partido e dos seus Estatutos.


Uma das questões levantadas pelo oportunismo contra o Partido é a nossa avaliação (que aliás não é nova, uma vez que é mencionada no actual Programa e foi elaborada no 15º Congresso, em 1996) de que o capitalismo grego está na fase imperialista de desenvolvimento e que ocupa uma posição intermédia no sistema imperialista internacional com uma forte dependência dos EUA e da União Europeia.


Atacam a posição de que a luta pela defesa das fronteiras, dos direitos soberanos da Grécia, do ponto de vista da classe trabalhadora e dos setores populares, está intrinsecamente ligada à luta pelo derrubamento do poder do capital. O povo grego não deve defender os planos de guerra de um ou outro pólo imperialista, a rentabilidade de um ou outro grupo monopolista.


O KKE tem uma rica experiência que confirma plenamente a posição leninista sobre a relação entre o imperialismo – o estágio mais alto do capitalismo – e o oportunismo no movimento operário, que é um assunto que diz respeito não apenas à Grécia, mas a todos os países capitalistas. Não é por acaso que a essência económica do imperialismo, que é monopolista com os seus traços característicos, é subestimada ou posta de lado também pelos partidos comunistas que aderiram ao oportunismo antes ou, principalmente, depois da vitória da contra-revolução nos países socialistas.


A concepção oportunista do imperialismo e a negação da existência de um sistema imperialista internacional (pirâmide imperialista)


O termo imperialista tornou-se uma moda recentemente na Europa e na Grécia entre as forças que não o usaram com tanta frequência ou tão facilmente em anos anteriores. O problema é que o imperialismo se apresenta como algo diferente e distinto do capitalismo, como um conceito político separado da base económica, posição que foi fortemente apoiada pelo pai do oportunismo, Kautsky. O oportunismo é, entre outras coisas, incapaz de modernização; ele repete Kautsky, recorre a argumentos anti-científicos, concentra-se deliberadamente na superfície e não na essência. Não é do seu interesse e, portanto, eles não podem ver todo o quadro da economia capitalista mundial nas suas relações internacionais mútuas. Quem não quer entender a essência económica do imperialismo e ver nessa base a superestrutura ideológica e política, no final absolve-o, sustenta-o e semeia ilusões entre as massas trabalhadoras e populares de que há bom e mau capitalismo, boa e ineficaz gestão burguesa. Em última análise, o oportunismo quer uma sociedade capitalista sem os supostos desvios, chamando desvios às próprias leis da economia capitalista e suas consequências. Esconde dos povos a essência de classe da guerra, pois critica-a do ponto de vista moral, por causa das suas trágicas consequências. Semeia a ilusão de que o capitalismo pode garantir a paz se se impuserem princípios da igualdade e da liberdade, de entendimento político entre os países capitalistas rivais, se forem estabelecidas regras na concorrência inter-capitalista.


O oportunismo, o reformismo repete com estilo inovador a concepção velha e antiquada de que o imperialismo se identifica com a agressão militar contra um país, a política de intervenções militares, com os bloqueios, com o esforço de reactivar a velha política colonial. Na Europa, os oportunistas identificam o imperialismo com a Alemanha e com o dogmático, segundo eles, ponto de vista liberal autoritário. A política dos EUA sob o governo Obama é considerada progressista por causa de diferenças parciais com a Alemanha sobre a gestão da crise, ou é considerada imperialista apenas em relação à América Latina. Qualquer tentativa da classe trabalhadora, por exemplo na França ou na Itália, de confrontar com antagonismo o capitalismo alemão é considerada progressista. O oportunismo na Grécia tem como posição fundamental que o país está sob ocupação alemã, que foi transformado ou está a ser transformado numa colónia, que está a ser saqueado pela senhora Merkel e pelos credores. O principal inimigo, além da própria Alemanha, é a tríade União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional que supervisiona e determina a gestão da dívida externa e interna e do défice fiscal. Acusam a burguesia do país e os partidos do governo de serem traidores, anti-patrióticos, subordinados e subservientes à Alemanha, aos credores ou aos banqueiros.


Eles criticam o KKE pelas suas avaliações do capitalismo grego no sistema imperialista internacional, que eles não aceitam que exista. Consideram a Grécia um país ocupado principalmente pela Alemanha e que o regime é neocolonial.


Eles usam arbitrariamente a avaliação de Lenine na sua obra conhecida como "Imperialismo, a Fase Superior do Capitalismo", de que um pequeno número de Estados saqueia a grande maioria dos Estados do mundo. Como consequência, o imperialismo é identificado com um número muito pequeno de países, que podem ser contados pelos dedos de uma mão, enquanto todos os outros países são subordinados, oprimidos, colónias, países ocupados devido à subordinação à visão liberal.


Hoje, há poucos países no topo, nas posições superiores do sistema imperialista internacional (o que também é ilustrado pelo esquema de uma pirâmide para mostrar os diferentes níveis ocupados pelos países capitalistas). Pode-se até dizer que são um punhado de países, segundo a expressão leninista. No entanto, isso não significa que os outros Estados capitalistas sejam vítimas dos poderosos Estados capitalistas, que a burguesia da maioria dos países tenha sucumbido à pressão, apesar do seu interesse geral, que se corrompeu. Isso não significa que a luta dos povos na Europa deva ter numa direcção anti-alemã, e que no continente americano deva ser dirigida apenas contra os Estados Unidos. Não é por acaso que os oportunistas na Grécia dão como exemplo positivo a superação da crise no Brasil e na Argentina e exaltam a política de Obama.


A sua insistência de que não há pirâmide imperialista, ou seja, que não há sistema imperialista internacional (mas apenas um número muito pequeno de países que podem ser classificados como imperialistas principalmente pela sua posição hegemónica e a sua capacidade de decidir lançar uma guerra local ou generalizada), não é acidental ou produto de uma opinião equivocada; é consciente. Daí deriva a sua disposição de assumir responsabilidades num governo burguês para administrar a crise.


O principal é que defendem a existência de uma etapa entre capitalismo e socialismo, com um objectivo claro. Por um lado, garantir que a classe trabalhadora renuncie à luta pelo poder dos trabalhadores e, por outro, prometer que no futuro distante e indefinido o capitalismo será transformado pacificamente, através de reformas e sem sacrifício, em socialismo, no seu socialismo, no qual a propriedade capitalista coexistirá com algumas formas de autogestão.


Note-se que, quando falam de uma Grécia independente e digna que resiste a Merkel, deixam claro que o país deve permanecer na União Europeia como Estado-membro, enquanto esperam que a NATO se dissolva, dissociando-se das dependências e compromissos político-militares que impõe.


Dizem que a Grécia, sempre como membro da União Europeia e da NATO, pode procurar empréstimos, créditos, investimentos de outros Estados como os EUA, a Rússia e a China, enquanto consideram que os governos do Brasil e da Argentina conseguiram a libertação dos seus povos do FMI. Como se os investimentos desses Estados não se baseassem na obtenção do maior lucro possível e no uso de mão de obra barata, no uso a longo prazo dos recursos naturais e das matérias-primas locais até que se esgotem.


Dizem até que a restauração capitalista nos países socialistas aboliu a Guerra Fria e que o mundo se tornou melhor porque é multipolar, ou seja, tem muitos centros e novas potências. No entanto, esquecem que esses novos centros e poderes se baseiam no desenvolvimento das relações capitalistas de produção, no domínio dos monopólios na economia, ou seja, que são novas potências imperialistas emergentes. Em conclusão, o mundo não se tornou melhor, nem mais promissor – embora o conflicto entre imperialismo e socialismo já não exista – como afirmam os apologistas do capitalismo.


Fonte: Iskra - Associação de Estudos Marxistas-Leninistas e El Machete (El Comunista)



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